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Inclusão – uma prática antiga no Recreio

21 de março é o Dia Internacional da Síndrome de Down. A data foi escolhida porque representa o 21º dia do terceiro mês do ano, fazendo uma referência à singularidade da triplicação (trissomia) do cromossomo 21, que causa a ocorrência genética da Síndrome. Na data em que se comemora o Dia Internacional da Síndrome de Down, o Recreio relembra como se transformou em uma escola referência em inclusão.

Até pouco tempo atrás, a ideia de inclusão, geralmente, soava como utópica. O pressuposto de que a sociedade é que deve preparar-se para receber e conviver com as diferenças é ainda hoje difícil de ser compreendido, aceito, internalizado e praticado. O paradigma do movimento social anterior, o de integração, pautava-se num processo de conquista individual, no qual os indivíduos com necessidades educativas especiais deveriam adaptar-se às exigências da sociedade e às escolas especiais cabia o papel de educá-los e prepará-los para o ingresso na escola regular.

De acordo com o Projeto Político-Pedagógico do Recreio, a inclusão é uma questão de direito. O objetivo da Escola é introduzir os indivíduos com necessidades educativas especiais no ambiente escolar com equidade.

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Primeiro aluno com síndrome de Down no Recreio

Em 1980, uma época que o então denominado deficiente era ausente do convívio social, e recebia quase que exclusivamente tratamento especializado, a Escola Recreio realizou a matrícula do seu primeiro aluno com Síndrome de Down, em turma regular, por acreditar na possibilidade de inclusão ainda na primeira infância.

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Na época, a proposta de inclusão do Recreio estava carregada de expectativas positivas, e seus objetivos iniciais eram oferecer às crianças excepcionais estímulos variados para favorecer seu desenvolvimento emocional e psicomotor, bem como oportunidades para o estabelecimento de diferentes vínculos sociais. Desde o início, afastava-se a ideia de tratamento diferenciado às crianças, rejeitando-se qualquer postura assistencialista.

Com o passar dos anos, ocorreu uma sistematização dos estudos da equipe e a Escola passou a incluir uma investigação mais profunda da área cognitiva, preocupando-se com o ensino e a aprendizagem de conteúdos curriculares. Na intenção de viabilizar a interação e atividades adequadas às crianças com necessidades educativas especiais, confirmou-se então a crença de que não é necessário haver diferença substancial no encaminhamento das propostas pedagógicas.

A presença de crianças com necessidades educativas especiais, na escola regular, trouxe para o Recreio benefícios institucionais (em sua organização, propósitos, crenças e valores), que levaram a alterações de condutas nas relações entre educadores, crianças e pais, pois todos têm oportunidades de conviver e aprender com os diferentes e suas diferenças.

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A inclusão escolar não significa apenas inserir o deficiente em uma sala de aula e sim lidar efetivamente com a diversidade e com as diferenças no seio de um processo interativo, já que a “inter-ação” faz referência “a uma ação que se exerce mutuamente em duas ou mais pessoas, ação recíproca, ação mútua. Força que duas partículas exercem uma sobre a outra quando estão suficientemente próximas” (Dicionário Aurélio, 1986).

Conforme explica a diretora pedagógica do Recreio, Helena Mourão Loureiro, “o processo interativo envolve o reconhecimento de cada um sobre si mesmo, e sobre o outro, ou o reconhecimento da consciência pelas outras consciências em uma ação recíproca. Esse processo baseia-se nas diferenças e na pluralidade como estímulos para o desafio de construir-se como pessoa”.

De 1980 para cá, a Escola Recreio evoluiu sua política de inclusão. Além de trabalhar com a crianças com necessidades educativas especiais no processo de educação, a instituição também possibilita a inclusão dessas pessoas no mercado de trabalho, como é o caso da ex-aluna do Recreio, Carolina Batel Ramiro de Carvalho, que é voluntária no trabalho de monitoria em sala de aula. Atualmente, é responsável por ajudar as professoras de 2º Período a cuidar das crianças e se sente muito à vontade com a função. “O que eu mais gosto de fazer é ajudar as crianças. Minha paixão é cuidar delas”, conta orgulhosa.

O Recreio acredita que o respeito pelo ser humano está acima das limitações pessoais. Toda a equipe é igualmente responsável pela implementação e execução do projeto pedagógico, inclusive dos processos de inclusão assumidos pela Escola. Logicamente, cabe à instituição investir na formação de seus profissionais, ajudando-os a refletir sobre suas atitudes e a aprofundar seus conhecimentos no que diz respeito, também, aos alunos e colegas com necessidades educativas especiais.

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