“Na família e na vida profissional e social, é preciso saber se expressar, consultar, questionar, fazer planos, tomar decisões, estabelecer compromissos e partilhar tarefas.”
(Luís Carlos de Menezes)
Ao ingressarem no 1º período, as crianças ainda estão bastante centradas em si mesmas. Esse egocentrismo é característico da fase que estão vivendo. Apesar de serem estimulados a trabalhar cooperativamente desde a mais tenra infância, isso ainda é um desafio para os pequenos. Por isso, na Escola Recreio, várias atividades, brincadeiras e jogos são realizados com o objetivo de estimular esse tipo de atitude.
Na Turma do 1º período de 2014, conhecida como Turma do Lápis, as relações das crianças foram permeadas pelo cuidado com o outro, pela partilha e por trabalhos em grupo. Uma das frases mais usadas ao longo do ano foi: “Nós somos uma equipe, né Soninha?”.
Para que as crianças pudessem chegar a uma conclusão dessas sem a intervenção direta da professora, as crianças passaram por inúmeras situações, nas quais tiveram que se reorganizar para poderem compartilhar e trabalhar conjuntamente, em pares ou com o grupo todo.
Jogos com regras, votações, compartilhar os brinquedos da sala, fazer construções coletivas, ajudar o colega em situações de conflito e atentar-se ao sentimento do outro, dando-lhe apoio e carinho foram algumas das estratégias usadas para que eles pudessem agir de modo cooperativo. Foram várias as situações, em que eles conseguiram demonstrar o novo aprendizado. Por exemplo: nas brincadeiras livres dentro de sala, uma das coisas que eles gostavam de fazer era realizar construções coletivas. Nos jogos, também era comum ouvir reclamações das crianças quando um colega descuidava-se das regras. Mesmo em relação aos combinados da sala, foi muito comum, durante todo o ano, eles buscarem a “Pasta de Regras” para mostrar aos amigos quando um deles se esquecia do que havia sido estabelecido pelo grupo.
É claro que houve situações nas quais a cooperação foi deixada de lado e a intervenção da professora se fez necessária, afinal, são crianças de 4 e 5 anos.
Para melhor conceituar este relato, busquei referências em Henry Wallon. Ele enfatiza o papel das emoções na construção do sujeito e propõe a “Psicogênese da pessoa completa”, ou seja, o estudo integrado do desenvolvimento. Baseando-se nisso, Izabel Galvão (1995) apresenta cinco estágios de desenvolvimento do ser humano que se sucedem, em fases com predominância afetiva e cognitiva:
• Impulsivo-emocional, que ocorre no primeiro ano de vida. A predominância da afetividade orienta as primeiras reações do bebê às pessoas que mediam sua relação com o mundo físico;
• Sensório-motor e projetivo, que vai até os três anos. A aquisição da marcha e da preensão dá à criança maior autonomia na manipulação de objetos e na exploração dos espaços. Também, nesse estágio, ocorre o desenvolvimento da função simbólica e da linguagem. O termo projetivo refere-se ao fato da ação do pensamento precisar dos gestos para se exteriorizar. O ato mental “projeta-se” em atos motores. Como diz Dantas (1992), para Wallon, o ato mental se desenvolve a partir do ato motor;
• Personalismo: ocorre dos três aos seis anos. Nesse estágio desenvolve-se a construção da consciência de si mediante as interações sociais, reorientando o interesse das crianças pelas pessoas;
• Categorial. Os progressos intelectuais dirigem o interesse da criança para as coisas, para o conhecimento e conquista do mundo exterior;
• Predominância funcional. Ocorre nova definição dos contornos da personalidade, desestruturados devido às modificações corporais resultantes da ação hormonal. Questões pessoais, morais e existenciais são trazidas à tona.
Destaco o estágio do Personalismo, pois esse apresenta o desenvolvimento de crianças na faixa etária com a qual trabalho. Acredito que a meninada da Turma do Lápis conseguiu consolidar um pouco mais o conceito de Cooperação a partir das experiências vividas. De minha parte, como professora, pude observar e mediar as relações estabelecidas entre elas promovendo, também em mim, mais atenção e cuidados com o outro.
Atitudes básicas, mas frequentemente esquecidas nos tempos em que vivemos.
Sônia Godoy¹
Dez. 2014.
Referências bibliográficas.
– http://revistaescola.abril.com.br/formacao/aprendizado-trabalho-grupo-451879.shtml
– http://psicologandonanet.blogspot.com.br/2008/03/teorias-de-desenvolvimento-henri-wallon.html
¹ Sônia Maria Amorim de Godoy Goulart é professora de Educação Infantil na Escola Recreio, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Com formação em Psicologia e Especialização em Educação Infantil e Alfabetização. Possui mais de 20 anos de experiência.